O emprego<br>continua a diminuir

Anselmo Dias

No dia 7, o Ins­ti­tuto Na­ci­onal de Es­ta­tís­tica pu­blicou as «Es­ta­tís­ticas do Em­prego» re­la­tivas ao 3.º tri­mestre de 2013. Nesse mesmo dia o Pre­si­dente da Re­pú­blica, a pro­pó­sito, re­feriu: «É um im­por­tante sinal de es­pe­rança para o fu­turo...».

O en­tu­si­asmo de Ca­vaco Silva foi se­guido por tudo o que era membro do Go­verno, de­pu­tados da mai­oria e seus acó­litos. Todos eles pro­mo­veram um fo­gue­tório pro­pa­gan­dista, ven­dendo a ideia de que os sa­cri­fí­cios im­postos aos por­tu­gueses estão a gerar efeitos po­si­tivos na eco­nomia e, por isso, efeitos po­si­tivos na di­mi­nuição do de­sem­prego, fi­xado em 15,6% em fi­nais de Se­tembro.

Es­tu­dámos esse mesmo do­cu­mento do INE e con­cluímos o que se segue.

 

Em­prego

 

O que é que os dados do INE nos dizem a res­peito do em­prego? Dizem-nos o se­guinte:

  1. A po­pu­lação ac­tiva di­mi­nuiu em 135 mil efec­tivos;

  2. A po­pu­lação em­pre­gada di­mi­nuiu em 102 700 efec­tivos;

  3. Os tra­ba­lha­dores por conta de ou­trem di­mi­nuíram em 92 700 efec­tivos;

  4. Os tra­ba­lha­dores por conta pró­pria di­mi­nuíram em 12 800 efec­tivos;

  5. A po­pu­lação em­pre­gada na agri­cul­tura, pro­dução animal e pesca di­mi­nuiu em 37 200 efec­tivos;

  6. A po­pu­lação em­pre­gada na in­dús­tria, cons­trução, energia e água di­mi­nuiu em 102 300 efec­tivos.

Pe­rante tantas e tão ex­pres­sivas perdas de em­prego, per­gunta-se: não houve, se­quer, um au­mento?

Houve, sim se­nhor:

  • houve um au­mento da po­pu­lação em­pre­gada nos sec­tores dos ser­viços, em 36 800 efec­tivos;

  • houve um au­mento do su­bem­prego (tra­balho a tempo par­cial) em 13 700 efec­tivos;

  • houve um au­mento dos tra­ba­lha­dores por conta de ou­trem com con­trato de tra­balho com termo, em 6500 efec­tivos;

  • houve um au­mento dos tra­ba­lha­dores fa­mi­li­ares não re­mu­ne­rados, em 2900 efec­tivos.

Com­pa­rando todos os dados atrás re­fe­ridos, bem como todos os dados do INE, não é di­fícil con­cluir que a perda global de em­prego cresce a passo de gi­gante, en­quanto as me­lho­rias sec­to­riais crescem a passo de anão. Mas mais do que isso.

As pon­tuais me­lho­rias nos sec­tores de ser­viços in­di­ciam que es­tamos pe­rante dados me­ra­mente con­jun­tu­rais na área do tu­rismo, onde pro­li­feram sa­lá­rios de mi­séria, su­bem­prego e em­prego de fa­mi­li­ares não re­mu­ne­rados.

 

De­sem­prego

 

O de­sem­prego, tendo em conta os dados do INE, passou ofi­ci­al­mente de 870 900 no 3.º tri­mestre de 2012, para 838 600 de­sem­pre­gados no 3.º tri­mestre de 2013 (o de­sem­prego efec­tivo orça quase 1 500 000).

A es­ta­tís­tica do INE su­gere, pois, um me­lhoria de 0,2 pontos per­cen­tuais, com­pa­ra­ti­va­mente ao pe­ríodo ho­mó­logo de 2012.

Cui­dado com este nú­mero. Ele não é ho­mo­géneo. A sua de­sa­gre­gação per­mite con­cluir o se­guinte:

  • houve um au­mento do de­sem­prego nas mu­lheres, em 3900 efec­tivos;

  • houve um au­mento do de­sem­prego na es­tru­tura etária a partir dos 35 anos, em 11 100 efec­tivos;

  • houve um au­mento do de­sem­prego de longa du­ração, em 56 400 efec­tivos.

Também aqui ques­ti­o­namos: pe­rante o agra­va­mento do de­sem­prego nas áreas atrás re­fe­ridas, não houve, em al­guns sec­tores, uma re­dução, mesmo que pe­quena, na taxa de de­sem­prego?

De acordo com os dados do INE, houve, sim se­nhor, uma re­dução ofi­cial do de­sem­prego, na es­tru­tura etária dos 15 aos 34 anos, em cerca de 43 300 efec­tivos.

A que se deve tal facto? Deve-se fun­da­men­tal­mente a três fac­tores:

  • ao au­mento da po­pu­lação inac­tiva, em cerca de 30 mil efec­tivos, parte dos quais, de­si­lu­didos na pro­cura de novo em­prego, acabam por ser ris­cados na lis­tagem dos de­sem­pre­gados;

  • ao au­mento da emi­gração, es­ti­mada em cerca de 120 mil saídas para o es­tran­geiro, no es­paço de um ano;

  • à in­clusão de jo­vens es­ta­giá­rios em efé­meros cursos de for­mação.

Jun­temos tudo isto e en­con­tra­remos, de cer­teza, a an­tí­tese da ex­pli­cação do Pre­si­dente da Re­pú­blica, quando re­fere, a pro­pó­sito da re­dução de 0,2 pontos per­cen­tuais da taxa de de­sem­prego, que a mesma «É um sinal im­por­tante de es­pe­rança para o fu­turo...».




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